Blog do Alziro

o bush disgraço a minha vida... INTERNET EXPLORER FILHO DA PUTA!

segunda-feira, outubro 17, 2005

A história de Claudemir



Era sozinho no mundo, na verdade na verdade sozinho no mundo Claudemir não era, também quem pudera ser sozinho tendo como profissão cantor oficial da churrascaria do Veneraldo Silvério - grande latifundiário da região - aonde todos ali já conheciam o seu gogó de ouro ou como os mais íntimos costumavam dizer "garganta de galo no cio" pq como ninguém Claudemir cantava música sertaneja na churrascaria.

Não era feio nem galã de novela das oito mais as candangas faziam fila para a bila de Claudemir, pois o segredo estava no seu charme pra ser mais exato era nos cotovelos de Claudemir, nem pela televisão alguém tinha visto cotovelos tão bem hidratados como os deles, brilhava como bochecha de neném, e elas, bom elas não resistiam. Mais Claudemir era do tipo tinha todas mais não tinha nenhuma, ele como todo artista nato não tinha um bom gênio para ter um relacionamento a dois, queria mais era saber das felicidades da vida entre as principais da sua era o álcool e a cachaça.

E do que ia valer falar de Claudemir se ele não tive-se uma história para marcar a sua curva na linha do tempo? Pois bem... Vamos a ela.

Nada naquele dia era diferente para Claudemir, a dor de cabeça era a mesma, a fome era a mesma e a vontade de sumir dali eram iguais, mais ele tinha show cedo para fazer e de nada adiantaria parar para reclamar da vida pois "a vida é surda, nós cegos e a morte não fala" - frase essa de um adesivo colado no seu espelho - e poise pra fora da sua casa (um humilde quarto nos fundos da churrascaria do Silvério) que também não era sua mais era como se fosse pois qualquer lugar que um ser humano fique por mais de 5 anos passa de ser propriedade da sua memória e o que é da memória ninguém tira ou engana. Ta guardado.

Lá se foi a cantar Claudemir para os espetos de picanha, abacaxi e maminha no alho, que nada, tirando um pouco de sal da ironia, até que tinha lá uns gatos pingados na churrascaria em plena terça-feira pela manha, até um senhor bem distinto e elegante que sorria a cada música que Claudemir tocava no seu violão. Na ultima música que o senhor ouviu antes de sair ele bateu palmas antes mesmo do fim da música, mais palmas essas que fizeram Claudemir até parar a música no meio para agradecer o senhor distinto e elegante que só que com um sorriso retribuiu o "muito obrigado e volte sempre" de Claudemir.

E chegou a noite, mais uma entre tantas as que Claudemir queria apenas "sair" e lá foi ele pela noite, noite essa que não saia muito dos arredores da churrascaria do Silvério, e por ali ficou em um bar, o bar do Romero aonde quando bêbado cantava de graça para todos e quando bêbado arriscava até desempoeirar sua gaita com solos intermináveis de blues e como tudo na vida acontece em uma hora, um minuto, foi naquele segundo que na vida de Claudemir que aconteceu de aparecer Frank Linnard, baixinho, gordo, de óculos e vestido no estilo azulejo da varanda da vovó.

Ninguém que não era dali não era bem visto no bar e foi assim com Frank, mais que logo isso mudou com as palmas de Frank para Claudemir pois afinal de contas se for querer agradar um bar agrade quem é o centro dele e no bar do Romero parecia ser sempre Claudemir, também parecia sempre ser o único disposto a animar aquele lugar e agora Frank com suas palmas e gritos de "Bravo! Bravo! é você! Bravo! você mesmo!" e no mesmo instante Claudemir que já tava pisando mole gritou:

- Quem é você? o que você qué? perguntou a Frank
- Só quero continuar ouvindo você tocar!
- Pois sente ai! e escute! e Romero dá uma dose pro cara aí.. aí.. qualé teu nome?
- Meu nome é Frank, Frank Linnard
- Oxi! da onde que nunca te vi por aqui?
- Não sou de lugar algum caro.. caro.. qual é seu nome?
- Claudemir Lima de Nogueira Não Lembro Mais (hahaha e risadas ao fundo)
- Então Claudemir... eu sou do mundo
- Então você é de todo mundo? então paga essa dose pra nóis (mais risadas ao fundo)
- Pago! se for pra continuar a ouvir você cantar e tocar, eu pago!

E Claudemir que mesmo sem Frank ou com Frank iria continuar tocar a sua gaita e violão até desmaiar como sempre, fez o gosto de Frank e noite adentra foram eles bebendo e cantando até que como de praxe Claudemir dorme tocando, e só tem forças pra se arrastar até a sua casa, seu quarto e dormir.

E já é sol lá fora quando Claudemir acorda para mijar e nota que tem um carro parado bem perto da sua casa e ele meio que ainda sobre a tontura da cachaça abre a porta e vê Frank encostado no capo do carro sorrindo e que quando vê Claudemir já grita "Até que enfim amigo! pensei que teria que chamar um príncipe pra beijar você para lhe acordar hahahaha" e Claudemir só ergue a sobrancelha esquerda como se não entende-se nada e não precisou pois Frank já foi logo entrando e indo direto ao assunto:

- Quero você no meu show Claudemir!
- Show?
- Sou do mundo! e vou pro mundo com meu show! tenho um grupo de teatro e preciso de uma pessoa com a sua voz, carisma e cotovelos.
- Unf!..
- Eu! Frank Linnard! não sou homem de meias palavras! vamos! sim ou não?

E como tudo na vida de Claudemir, nada sempre foi nada e tudo sempre foi algo que ele nunca teve, então nada haveria de perder, alias o que iria perder seria apenas o cheiro de carne que todas as suas roupas exalavam de tanto tocar e cantar na churrascaria de Silvério e pronto para mudar de vida novamente Claudemir não quis saber nem CPF, RG ou Titulo de Eleitor de Frank, como sempre só queria "sair" dali, e Frank disse:

- Arrume suas coisas e despeça de seus amigos, vamos partir logo ao anoitecer
- Minhas coisas não se arrumam e dos meus amigos nunca me irei despedir, pois nessa vida só sabe a data de saída se vai ter chegada ou volta ninguém sabe...
- Ta certo! então vou resolver uns problemas e passo para lhe buscar ao anoitecer!
- Vou estar esperando...

E lá se foi Frank e lá fica Claudemir a pensar sobre o que poderia o fazer mudar de opinião mais nada ali naquela casa o fez, então resolveu sair e dar uma volta para pensar se tinha algo que ele não poderia deixar ou esquecer. Nada ele encontrava e o anoitecer já estava para chegar e a caminhar Claudemir estava e descia e subia a calçada da rua para calçada da calçada para rua e foi numa dessas subidas e descidas que Claudemir perdeu o controle e que como tudo na vida acontece, na de Claudemir aconteceu, ele tropeçou nas próprias pernas e com tudo com a cabeça foi no meio-fio da rua! caiu com a testa! e ali ficou como na vida era, sozinho.

E como na vida ninguém é sozinho Claudemir não ficou muito tempo sozinho ali jogado no chão, ficou só o tempo de sofrer uma hemorragia interna no crânio e morrer, pois como ninguém sabe do tempo o senhor bem distinto e elegante - o mesmo das palmas e sorriso da churrascaria - também não sabia e chegou apenas a tempo de reconhecer o defunto.

Mais o senhor bem distinto e elegante chegou a tempo de resolver esse problema que nunca foi problema para ninguém - talvez apenas para Claudemir - o meio-fio da rua. Sem nunca saber ficou Claudemir que o senhor bem distinto e elegante que bateu palmas para ele na churrascaria do Silvério era o prefeito, o mesmo que depois da tragédia-classica-urbana que aconteceu com Claudemir escreveu uma lei cuja ela dizia mais ou menos assim:

"A partir de hoje fica expressamente obrigatório a que todos os meios-fios de todas as ruas do perímetro urbano sejam pintados de amarelo e que nos bairros sejam pintados de branco, assim aumentando a sinalização de nossas ruas para melhor fluxo no transito e garantindo uma maior segurança a nossos cidadãos."

E foi assim a história de Claudemir que marcou a sua curva na linha do tempo, deixando não seu nome mais sua história para a eternidade de uma sociedade cuja qual ele viveu sem saber se ia fazer parte ou se ia apenas acontecer como aconteceu na vida de qualquer um, até de Frank Linnard que de um puro agiota, estelionatário não passava e que morreu espancado por credores naquela tarde aonde só esperava anoitecer para levar o talento de Claudemir que se acabou em um meio-fio.